Crítica

Na Rentrée lisboeta, Lourenço Viegas voltou á acção numa casa simples da Bica.
E matou saudades de umas boas batatas fritas caseiras.

Já andava há uns anos com falta de qualquer coisa,mas não sabia bem do que era.
Uns diziam que era mulheres,outros mangésio,outros mudar para a Meo para ter o Canal Q.
Mas não,o que me faltava mesmo eram boas batatas fritas.
E acho que não tenho comido melhores do que no Toma Lá Dá Cá.
Mas antes das batatas o resto.
O Toma lá Dá Cá é ali na Bica,quem desce o elevador na primeira à direita.
E nao bastava apenas o Bairro Alto lá no alto,nem o Adamastor lá ao fundo,que agora a Bica tem ela própria vida própria.
Ou seja, em semântica Remax,boas acessibilidades e envolvente em zona jovem mas com cachet.
No meio de tudo isto, o Toma Lá Dá Cá é um restaurante sóbrio com um nome irritante.
O nome é nome de programa de serviçozinho público de televisã,mas a realidade é de gente empreendedora imparável, numa casa sempre cheia(reservas só para grupos grandes,mais de dez pessoas).
Uma pratada de jaquinzinhos bem fritos, frescos,com carne húmida e firme dentro da armadura de fritura.
Comida para comer à mão,com espinhas e tudo.
Na mesa ao lado,as estrangeiras olhavam espantadas,que lá no país delas não se deve comer com as mãos(muitas mesas com estrangeiros são com certeza uma alta cotação em guias da especialidade,ou de um ranking elevado em sites de gastrodemocracia).
Bem se pode escolher os amigos com um prato de jaquinzinhos pela frente: deitar fora os que usam garfo e faca, guardar os que comem à mão da cauda á cabeça.
Para o purgatório vão os que deitam ao prato a espinha central,mais agressiva de mucosas mais sensíveis.
No Toma Lá Dá Cá o arroz de tomate que acompanhava os bichos vinha molhado,mas o arroz bem cheio e com dureza distintiva.
Continuando em comidas primárias, vale a pena o onglet com chalotas.
Onglet é um corte da vaca junto ao diafragma,com um sabor acentuado,delicioso,carne a puxar a entranha,com personalidade e atitude.
Vem com uma densa cebolada de chalotas,que eriquece ainda mais.
A alheira de caça é boa,bem frita,com um bom grelo avinagrado.
Uma alheira que aguenta bem a estupidez de a pedirem fora de época.
Em cima de tudo isto,batatas fritas divinais.
Bem cortados os palitos,nem grandes nem pequenos,mas sobretudo todos diferentes.
Um dos segredos da boa batata frita,ao contrário do que se lê na melhor literatua, é o palito não ser simétrico.
Se estreitar num dos lados, em cunha,a mesma batata tem cambiantes de sabor e textura,e ganha em realidade complexidade.
O serviço é simpático e caseiro,com todo o espectro de atributos que isso traz,desde o senhor em cujo sangue correm anos de serviço e simpatia,ao jovem sorridente que não faz ideia dos pratos que serve.
No fim,um toque requintado no cheesecake,em que o doce é vertido de um frasco em quantidades muito contidas que não assassinam a boa qualidade do bolo.
Vinte,vinte e poucos euros por pessoa,pedido mais do que o honesto para a comida também honesta que nos dão.
Sobretudo quando colmatam uma falha de tantos anos,de boas batatas fritas.

Toma Lá Dá Cá
Travessa do Sequeiro,38(Bica).
21 347 9243. Seg-Sáb 12.00-14.00/19.30-23.30 02.00)